sábado, 20 de junho de 2009

2ª Parte: O Meu Percurso Formativo

As competências adquiridas por um indivíduo apresentam-se como a articulação de vários conhecimentos, os quais se adquirem ao longo da vida, através da educação informal e formal e das experiências individuais vivenciadas. Assim sendo o percurso formativo resulta da combinação de saberes multiformes e de diferente natureza, tal como afirma Ana Pires (2008). A pessoa que hoje sou, resultou da combinação do meu material genético com os meios em que tenho realizado o meu percurso existencial.

Nesta perspectiva, posso afirmar que a minha formação começou desde o dia em que nasci, através das experiências vividas em família, onde aprendi a falar e a relacionar-me com os outros e com o meio envolvente. Continuou com a educação formal na escola primária, durante a infância, até à fase de jovem adulta com a frequência de um curso universitário. Durante a frequência do Ensino Secundário e Universitário vivi deslocada da família, esta experiência proporcionou-me várias aprendizagens, a nível da construção de uma identidade e do relacionamento interpessoal, da independência que fui adquirindo e da consequente responsabilidade pela gestão dos recursos financeiros que os meus pais me disponibilizaram ao longo desses anos, até iniciar a minha vida profissional.

Como referido, na perspectiva teórica de Erikson (Valadares, 2007), durante esta fase de jovem adulta estabeleci laços com alguém, muito importante no meu desenvolvimento pessoal, e juntos constituímos família. Antes de terminar os meus estudos universitários tive dois filhos. Esta realidade familiar tornou-se na minha fonte de sabedoria pessoal. O relacionamento íntimo com alguém é fundamental para o crescimento interior. O relacionamento com os filhos, o apoio ao seu crescimento e desenvolvimento, é também uma experiência de aprendizagem muito rica, a qual tem favorecido o meu desenvolvimento ao longo destes anos.

Quando iniciei a minha vida profissional, como professora do Ensino Básico, deparei-me com a necessidade de proceder à minha formação individual, através da preparação diária das aulas, quer a nível de conteúdos como de métodos de aprendizagem. Relativamente à minha actividade profissional posso afirmar que, ao longo dos catorze anos que leccionei, aprendi imenso. Essa aprendizagem constante ocorreu tanto a nível formativo, através das acções de formação que frequentei, em áreas muito variadas, como através das experiências de relacionamento com alunos, pais e colegas.

Uma das formações que me proporcionou mais experiências de aprendizagem, foi na área da Filosofia para Crianças. Permitiu-me conhecer melhor os meus alunos, assim como me mostrou que ensinar a pensar, a questionar e a argumentar, promove o desenvolvimento individual.

As mudanças sociais, a que hoje se assiste, e as exigências que as acompanham, nomeadamente no mundo do trabalho, levaram-me a integrar de novo o Ensino Universitário. Na actual fase de adultez, estou novamente em formação nesta licenciatura em Educação. Esta experiência tem facultado o meu desenvolvimento em muitas áreas, através do próprio sistema de ensino a distância, e-learning, e dos conteúdos de cada unidade curricular. É mais um comprovativo de que nos encontramos sempre em desenvolvimento, e de que as nossas capacidades intelectuais não estagnam, como se pensava há uns anos atrás.

Bibliografia

MARCHAND, H., Excerto do texto A Sabedoria, in Psicologia do Desenvolvimento, 2001

Texto traduzido e adaptado por ANGELINA COSTA (2008), de RODRIGO, M. e PALÁCIOS, J. Famillia y desarrollo humano, Madrid, Alianza Editorial, 1998

VALADARES, J., Manual de Psicologia de Desenvolvimento e Aprendizagem, 2007

1ª Parte: A imagem social do idoso versus sabedoria

Nas sociedades ocidentais, sociedades ditas industrializadas, a capacidade de produzir é uma característica determinante para definir os papéis sociais de cada indivíduo. Por esta razão é associada aos idosos uma imagem de indivíduos não produtivos, que atingiram uma fase das suas vidas em que se limitam a existir, dos quais não se espera uma contribuição activa na vida social, pois fisicamente já não podem realizar algumas tarefas. Como todos os indivíduos adultos trabalham, na maioria das famílias, deixou de haver condições para cuidar dos seus “velhos”. Assim a sociedade, atenta às necessidades de apoio familiar de forma a rentabilizar a capacidade de produção, criou espaços para recolher os idosos e providenciar as suas necessidades, tratando-os de forma homogénea, como “produtos excedentes”. A velhice passa a ser encarada como uma doença social, (Patrícia Matos, 2004).

Atribui-se, aos idosos, uma incapacidade de actuar, quer a nível físico, por debilidade do seu corpo e por atrofiamento muscular, quer a nível mental por perda de faculdades intelectuais, memória e concentração. Esta imagem é desprovida de sentido à luz das teorias da psicologia do desenvolvimento humano, pois pressupõe que um idoso não se desenvolve, e que as suas capacidades intelectuais estagnam. Verifica-se, no entanto, que em todas as idades ocorrem mudanças, as quais suscitam um reajustamento ou uma adaptação à nova situação. Estas mudanças e adaptações, seguidas de períodos de estabilidade, são responsáveis pelo desenvolvimento contínuo do ser humano. Assim sendo, se por um lado a ciência comprova o aumento da debilidade física com o passar dos anos, a sua mente não sofre necessariamente o mesmo tipo de mudança e consequente adaptação. Apesar da mente humana também se encontrar em permanente mudança ao longo da vida, isso não determina que uma pessoa na fase de velhice não tenha capacidade de decisão para empreender com sucesso muitas e variadas tarefas.

A família tem também nesta fase um papel muito importante no desenvolvimento humano, se conseguir estar presente e apoiar esta fase dos seus idosos, ser-lhes-á mais fácil a resolução dos seus conflitos interiores e a aceitação das suas novas condições de vida, em que a dependência física é normalmente um factor comum. As mudanças são muito acentuadas nesta fase de desenvolvimento, e serão aceites mais facilmente se houver apoio da parte da família, pois foi, provavelmente, no seio da família que todas as situações anteriores de mudança foram ocorrendo sendo ultrapassadas e levando a um desenvolvimento de cada elemento da mesma. Cabe à sociedade criar condições de desenvolvimento adequado a esta fase, sempre que a família não o possa proporcionar. Deverão as instituições de acolhimento ser instrumentos promotores de socialização permitindo o surgimento de novos papéis sociais, eliminando assim os sentimentos de inutilidade, as depressões e a solidão.

De acordo com a teoria do desenvolvimento de Erikson (Valadares, 2007) o último estádio de desenvolvimento caracteriza-se por um conflito psicossocial entre integridade e desespero. Nesta fase os indivíduos reflectem sobre a sua vida toda, sobre o que fizeram, o que não fizeram, o que poderiam ter feito, de certa forma fazem um balanço da sua vida. Da resolução positiva deste conflito surgem as virtudes básicas de sabedoria e de renúncia.

Como refere Marchand (2001) a sabedoria resulta da astúcia das pessoas, da sua capacidade de serem boas ouvintes e boas observadoras, o que as leva a aprender com os seus erros e com os erros dos outros. Compreende-se assim que a sabedoria não depende só da inteligência dos indivíduos, mas sim da forma como integram os saberes e as competências adquiridas com a sua experiência de vida, dotando-os de elevados conhecimentos, segundo a conceptualização de Baltes (Marchand, 2001) quanto ao desenvolvimento humano, conhecendo as suas fases e os seus ritmos, quanto à própria natureza humana, relativamente às relações sociais e intergeracionais, sendo que neste ponto a sabedoria se traduz numa redução de conflitos sem que o indivíduo seja passivo. Acumulam-se também conhecimentos pelas tarefas e objectivos de vida, variações individuais e culturais e quanto às incertezas características dos percursos de vida.

Pelo que foi exposto no parágrafo anterior pode verificar-se que os conhecimentos e as competências que os indivíduos adquirem ao longo da sua vida os enriquecem como seres humanos. A sabedoria é resultante de uma experiência de vida, não é inata, desenvolve-se ao mesmo tempo que o ser humano também se desenvolve. Não estagna quando este atinge a idade adulta, continua a desenvolver-se e a manifestar-se durante toda o processo da velhice, desde que as condições físicas do indivíduo assim lhe permitam.

Verifica- se assim que as teorias do desenvolvimento humano contrastam imenso com a imagem mais generalizada dos idosos na nossa sociedade. A sabedoria aumenta com a nossa idade, com a nossa experiência de vida, com o desenvolver de relações interpessoais, pelo que é muito importante sabermos escutar, observar e aprender com os nossos e com os erros dos outros. O relacionamento com os idosos poderá ser uma fonte de sabedoria.




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domingo, 17 de maio de 2009

 

FICHA DE LEITURA

Autor da Ficha:

 Delmira Maria Nascimento Silva Lucas

Número de estudante: 801871

Data: 10/05/09

Turma: 3

 

 

Autor do artigo: Maria Luísa Fonseca Grácio

 

Título do artigo: Representação social da criança em educadores de infância e professores do 1º Ciclo do Ensino Básico portugueses

 

Citação: GRACIO, Maria Luísa Fonseca. Representação Social da Criança em educadores de infância e professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Português. Aná. Psicológica, jun. 1998, vol.16,nº2,p.285-300. ISSN 0870-8231

Introdução: O estudo exploratório apresentado neste artigo teve como base de pesquisa a teoria das representações sociais. Tendo como objectivo obter a representação social da criança. De acordo com Abric (1994) é a relação entre o sujeito e o objecto que determina este último. Assim a “realidade objectiva” é substituída pela apropriação da realidade que cada indivíduo, ou grupo, realiza tendo por suporte a sua história cultural.

Metodologia: Os vários sistemas educativos são construídos relativamente às diferentes concepções de criança. Sendo os agentes educativos os Educadores de Infância e os Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, o presente estudo foi recolhido a uma amostra de dez elementos de cada, todos do sexo feminino, exercendo a sua actividade profissional em Évora, com idades compreendidas entre os 21 e 60 anos cujos tempos de serviço e situam entre os 6 e 30 anos. Foram utilizadas duas técnicas: entrevista semi-directiva e associação livre de palavras.

Resultados e discussão: Verificou-se que na representação da criança em geral não se encontram diferenças significativas entre Educadores e Professores, excepto no que diz respeito à análise das subcategorias; os professores dão mais importância aos temas “Atributos simbólicos”, “Objectos do universo infantil” e “A criança como projecto de futuro adulto”, enquanto os educadores referem a importância do tema “Necessidades”.

Ambos os grupos manifestam, relativamente à informação e atitude da representação da criança (Moscovici, 1961), uma representação positiva. Definindo a criança simbolicamente, como um ser em desenvolvimento, com características positivas e algumas contraditórias. Como um ser com necessidades básicas, afectivas e educativas, mas afirmando a sua singularidade a qual deverá ser base orientadora de uma educação diferenciada. Referem ainda, ambos os grupos, que as regras de relacionamento são mais importantes do que as de comportamento, no entanto afirmam que o não cumprimento de regras de comportamento está na origem de maior número de punições.

Os objectivos dos educadores e dos professores são a estruturação da personalidade da criança e a sua integração social, apresentando os primeiros uma relação mais individualizada, valorizando a criança, enquanto os professores parecem ver na criança um ser que essencialmente imita os adultos, dando mais ênfase às regras e à intervenção do adulto.

Quanto à representação da criança em idade pré-escolar, a criança é referida como um ser que necessita de afecto e amor, assim como de estabelecimento de relações interpessoais. Ambos os grupos apresentam um aumento de avaliações neutras ou negativas, relativamente à criança em geral. Os educadores revelam um maior envolvimento emocional, referindo que os pais devem intensificar o seu acompanhamento nesta fase, e dando relevância aos aspectos do desenvolvimento, dando mais importância ao tema “ Traços psicológicos ligados a atitudes e comportamentos”. Os professores, por sua vez, valorizam as necessidades básicas da criança, dando mais importância às questões comportamentais. Os educadores apresentam mais conhecimentos sobre a criança nesta fase, pois a informação é fundamental para a representação., e a fase pré-escolar pertence ao Jardim de Infância. A criança é representada como um símbolo positivo.

As necessidades educativas da criança em idade escolar são mais valorizadas do que na representação da criança em geral. Os educadores dão mais importância às necessidades pedagógicas e ao tema “ Traços psicológicos ligados a atitudes e comportamentos”, e os professores às necessidades relacionais e aos aspectos cognitivos, assim como ao tema “Objectos do universo infantil”. A criança passa de um estado de maior liberdade para um estado de maior concentração e obediência. Assim as questões comportamentais tornam-se mais importantes. Os educadores assumem-se como intervenientes, de forma individualizada, nos aspectos de desenvolvimento, enquanto os professores intervêm mais a nível do comportamento.

No geral a criança é apresentada como um ser que depende da presença do adulto, apresentando um estatuto de futuro adulto, concebida como um ser incompleto, que deverá seguir um modelo de educação uniforme, sem que as suas particularidades sejam valorizadas.

Comentários pessoais: O ser humano está em permanente desenvolvimento, desde que nasce até que deixa de existir. Desta forma a criança é um ser que se encontra em pleno desenvolvimento, quer físico quer mental.

Actualmente a maioria das crianças passa grande parte dos dias entregue a uma instituição, creche, jardim-de-infância ou escola. Assim sendo é imperativo que os agentes educativos que fazem parte dessas instituições tenham conhecimentos sobre a criança.

 Em conclusão, no artigo citado, a autora refere que a criança é representada como uma criança-norma socializada, ou seja espera-se que siga determinadas instruções de construção de personalidade, de forma a obter certas qualidades que se traduzirão em atitudes, valores e comportamentos considerados os correctos.

Sendo a criança, de acordo com Piaget (1962), um ser que participa activamente na construção do seu conhecimento da realidade, será mais pertinente partir das singularidades de cada criança para proceder a essa construção.

No período pré-escolar o desenvolvimento da criança é rápido, pelo que uma orientação durante esta fase é importante, no entanto orientar não é impor. Permitir à criança que adquira competências, através da brincadeira e dos jogos de faz-de-conta, é permitir que se desenvolva de acordo com as suas necessidades. Os educadores de infância têm um papel muito importante, pois é nesta fase que se desenvolve o pensamento simbólico, e para que este se desenvolva em harmonia é necessário partir da experiência individual da criança, seguir atentamente os ritmos de aprendizagem de cada uma. De acordo com Vigotsky (1978) a motivação por parte dos pais e outros adultos, como os educadores, torna-se fundamental para a realização das aprendizagens.

A fase escolar pode considerar-se como uma fase de feliz desenvolvimento, durante estes anos a criança desenvolve-se bastante a todos os níveis, adquire vários conhecimentos e capacidades físicas que lhe atribuem muita autonomia. O seu pensamento adquire agora outra dimensão, torna-se menos egocêntrico e desenvolvem-se capacidades de raciocínio. Erikson refere que nesta fase a criança vive uma crise, provocada pelo balanço constante entre a produção de aprendizagens efectuadas e pelo sentimento negativo de inferioridade quando não as consegue atingir. A integração social é agora mais consciente. Os professores têm um papel fundamental em todos os aspectos referidos, como orientadores sempre presentes na sua educação, não para uniformizar os indivíduos, mas para promover as suas capacidades individuais. A consciência da criança com o seu potencial individual é muito importante para que a sua educação possa acontecer de forma harmoniosa em cada etapa da sua vida.

Bibliografia

TAVARES, J: e outros (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Porto: Porto Editora.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A sabedoria popular: "O velho por não poder, o moço por não saber, deitam tudo a perder:"

Os provérbios, ou ditados populares, encerram teorias do senso comum sobre vários assuntos, as quais são aceites pela maioria das pessoas como verdades incontestáveis. Tratando-se de senso comum, estas teorias não têm fundamento científico, baseiam-se em observações de comportamentos e atitudes, e traduzem-se num conhecimento empírico da realidade. Trata-se de teorias implícitas, as quais no entanto podem ter também algum fundamento científico.

Analisemos o seguinte provérbio:

“O velho por não poder, o moço por não saber, deitam tudo a perder.”

É do senso comum a expressão “ o velho por não poder”. Normalmente às pessoas mais velhas atribui-se uma incapacidade de actuar, quer a nível físico por debilidade do seu corpo e por atrofiamento muscular, quer a nível mental por perda de faculdades intelectuais, memória e concentração. No entanto do ponto de vista científico verifica-se que em todas as idades ocorrem mudanças, as quais suscitam um reajustamento ou uma adaptação à nova situação. Estas mudanças e adaptações, seguidas de períodos de estabilidade, são responsáveis pelo desenvolvimento contínuo do ser humano. Assim sendo, se por um lado a ciência comprova o aumento da debilidade física com o passar dos anos, a sua mente não sofre necessariamente o mesmo tipo de mudança e consequente adaptação. Apesar da mente humana também se encontrar em permanente mudança ao longo da vida, isso não determina que uma pessoa na fase de velhice não tenha capacidade de decisão para empreender com sucesso muitas e variadas tarefas. Desta forma “ o velho por não poder, …, deitam tudo a perder” nem sempre é verdade, pois se fisicamente existir a possibilidade de impedimento de realização de determinados trabalhos, a nível mental tal poderá não se verificar. Uma pessoa idosa poderá efectivamente ser mais eficaz na produção de um trabalho intelectual, pois o seu desenvolvimento intelectual foi fruto de várias situações, condicionadas pelo meio socioeconómico envolvente, o qual pode ser superior ao de um jovem adulto, na sua pujança física, o que poderá determinar a realização de muitas tarefas com verdadeiro sucesso, sem nada deitar a perder.

A expressão “ o moço por não saber”, também encerra alguma ambiguidade. Por um lado podemos acordar que o desenvolvimento intelectual de um moço - entendendo-se por moço um rapaz adolescente ou uma criança - é ainda imaturo. Isto significa que o estado de maturação biológica ainda é prematuro, pelo que o seu processo de aprendizagem ainda está numa fase de desenvolvimento muito rápido. É verdade que o moço pode ainda não saber determinadas coisas, pode não ter realizado as aprendizagens necessárias para efectuar as tarefas propostas. A ambiguidade desta expressão reside no facto de as aprendizagens se efectuarem através da interacção do material genético, com que nasce já equipado, com o meio onde cresce e se desenvolve o indivíduo. Desta forma o que um jovem sabe não depende apenas da sua idade, mas do enriquecimento ou empobrecimento do seu potencial hereditário o qual depende do tipo, da quantidade e da qualidade da sua relação com o meio e também do momento em que estes ocorrem (Sprinthall e Sprinthall, 2007). Depreende-se do que foi referido, que não basta afirmar que não sabe porque é jovem, pois poderá ter adquirido conhecimentos que um adulto nunca chegue a possuir, ficando assim mais dotado para a realização de determinadas tarefas.

A teoria que se encontra implícita neste provérbio refere-se à ideia de que as capacidades intelectuais máximas são atingidas na fase adulta. Antes desta fase o indivíduo encontrar-se-ia em desenvolvimento no sentido de crescer e amadurecer. Depois desta fase o amadurecimento apenas implicaria o decaimento físico. Com o aparecimento da psicologia, como uma ciência que utiliza o método experimental, chegou-se à conclusão que o desenvolvimento do ser humano não termina na fase adulta. O desenvolvimento humano é um processo que implica mudanças e consequentes adaptações, as quais ocorrem ao longo de toda a sua vida. Referindo o princípio fundamental da Psicologia, o ser humano é produto da hereditariedade em intervenção com o meio e com o tempo (Sprinthall e Sprinthall, 2007).

É certo que por vezes o velho não pode e o moço não sabe, mas isso não é sempre verdade, e não implica necessariamente que deitem tudo a perder.

 

Bibliografia

SPRINTHALL, Norman, SPRINTHALL, Richard, PSICOLOGIA EDUCACIONAL, Lisboa, McGraw Hill, 2007

 

 

A Psicologia do Desenvolvimento e a Educação ao Longo da Vida

O ser humano quando nasce é portador de material genético, nas suas células, o qual possui as características “herdadas” dos seus progenitores. Dessas características genéticas reconhecem-se as que são comuns a todos os seres humanos, a hereditariedade específica, e as que proporcionam a cada ser humano determinadas características que o tornam único, a hereditariedade individual.

Ao longo de anos efectuaram-se várias observações e comparações entre o desenvolvimento dos seres humanos e animais de outras espécies. De algumas destas observações concluiu-se que os seres humanos apresentam um desenvolvimento mais lento nos primeiros anos de vida, no entanto têm uma capacidade de aprendizagem muito maior, ou seja nascem programados para aprender.

                Assim sendo, será a genética, a hereditariedade individual, a única responsável pelo facto de cada indivíduo se apresentar com uma identidade própria?

O meio onde cada um nasce, e vive, é também fundamental para o seu desenvolvimento físico e psicológico. O ser humano é a interacção do seu potencial hereditário com o meio e com o tempo (Sprinthall e Sprinthall, 2007).

De que forma actua o meio no desenvolvimento humano?

Uma das formas é através da educação. Quer se trate de educação formal ou de educação informal. A educação prende-se com o desenvolvimento das capacidades psíquicas, intelectuais e éticas do ser humano. O indivíduo aprende informalmente, essencialmente por observação e imitação, através do contacto com as pessoas mais próximas, nomeadamente a família, durante os primeiros anos de vida. Mas a educação também pode ser promovida formalmente em determinadas instituições educacionais.

O desenvolvimento do ser humano apresenta-se assim intimamente relacionado com a aprendizagem, ou seja, com o processo de educação a que cada um está sujeito, desde o seu nascimento até ao final da sua vida. A educação é condicionada pelo meio em que cada indivíduo se encontra inserido, desde o meio socioeconómico, o país e o continente. Existem vários sistemas educacionais diferentes em muitos países, logo o leque de aprendizagens oferecido também é diferente. Para além das diferenças nas formas de promover o ensino, nomeadamente disciplinas e áreas disciplinares, também a cultura de cada país influencia a educação dos indivíduos. A língua materna é um bom exemplo de como a cultura não se separa da educação, esta depende do país em que o indivíduo se encontra, e mesmo dentro do mesmo país existem diferenças culturais muito profundas que determinam as aprendizagens que os indivíduos realizam. Consideremos por exemplo o caso da Catalunha, região espanhola, onde as crianças aprendem como língua materna o catalão e só depois na escola aprendem o castelhano.

Cada um dos factores descritos actua sobre cada ser humano de forma diferente, pois o material genético transportado por cada um é diferente. O ser humano não se apresenta como um livro em branco pronto a ser escrito, mas sim com um conjunto específico de símbolos que podem ser combinados de variadíssimas formas.

Os educadores têm assim uma responsabilidade muito grande no desenvolvimento de cada um dos seres humanos que lhe são confiados. Cada um dos educandos apresenta-se com determinado potencial genético, físico e intelectual. O educador deve ser o mediador do seu relacionamento com o meio em que estão inseridos, de forma a desenvolver todas as vertentes do potencial apresentado pelo educando. Com esse objectivo o educador deve proporcionar ao educando os meios exploratórios necessários para que este efectue as aprendizagens fundamentais ao seu desenvolvimento. Torna-se então imprescindível que o educador tenha conhecimento do estádio de desenvolvimento em que cada indivíduo se encontra.

Assim sendo, o educador deverá ser conhecedor da psicologia do desenvolvimento, ciência que estuda o desenvolvimento humano, a qual tem apresentado seguidores de diferentes pontos de vista. Desde os cientistas que acreditavam que a hereditariedade era a única responsável pelo desenvolvimento do indivíduo, passando pelos comportamentalistas que afirmavam que o meio era determinante para esse desenvolvimento, até ao meio termo em que se baseiam as observações actuais: o ser humano é fruto da interacção do material genético, com que nasce, com o meio onde se desenvolve, sem esquecer a quantidade e a qualidade desses momentos de envolvimento com o meio.

A educação é o caminho de abertura do ser humano para o mundo. Através dos diferentes processos de educação proporciona-se ao indivíduo todo um leque de opções de exploração do mundo, começando pelo meio que o circunda, e levando-o até onde o seu material genético o permitir.

 

 

 

 

Bibliografia

SÁ, Eduardo, A VIDA NÃO SE APRENDE NOS LIVROS, Cruz Quebrada, Oficina do Livro, 2007

SPRINTHALL, Norman, SPRINTHALL, Richard, PSICOLOGIA EDUCACIONAL, Lisboa, McGraw Hill, 2007

 

Questionamo-nos sobre:

Ao observarmos os nossos filhos somos confrontados com muitas questões sobre o desenvolvimento humano.

  • De que forma actua o meio sobre o material genético herdado?
  • Qual é o verdadeiro papel do adulto/educador no processo de crescimento/desenvolvimento humano?
  • Em que medida o relacionamento interpessoal é importante para o desenvolvimento humano?
  • Como poderá a brincadeira ser considerada uma fonte de desenvolvimento para a criança?
  • O que é mais importante no desenvolvimento humano: a mudança ou a reorganização consequente dessa mudança?