sábado, 20 de junho de 2009

1ª Parte: A imagem social do idoso versus sabedoria

Nas sociedades ocidentais, sociedades ditas industrializadas, a capacidade de produzir é uma característica determinante para definir os papéis sociais de cada indivíduo. Por esta razão é associada aos idosos uma imagem de indivíduos não produtivos, que atingiram uma fase das suas vidas em que se limitam a existir, dos quais não se espera uma contribuição activa na vida social, pois fisicamente já não podem realizar algumas tarefas. Como todos os indivíduos adultos trabalham, na maioria das famílias, deixou de haver condições para cuidar dos seus “velhos”. Assim a sociedade, atenta às necessidades de apoio familiar de forma a rentabilizar a capacidade de produção, criou espaços para recolher os idosos e providenciar as suas necessidades, tratando-os de forma homogénea, como “produtos excedentes”. A velhice passa a ser encarada como uma doença social, (Patrícia Matos, 2004).

Atribui-se, aos idosos, uma incapacidade de actuar, quer a nível físico, por debilidade do seu corpo e por atrofiamento muscular, quer a nível mental por perda de faculdades intelectuais, memória e concentração. Esta imagem é desprovida de sentido à luz das teorias da psicologia do desenvolvimento humano, pois pressupõe que um idoso não se desenvolve, e que as suas capacidades intelectuais estagnam. Verifica-se, no entanto, que em todas as idades ocorrem mudanças, as quais suscitam um reajustamento ou uma adaptação à nova situação. Estas mudanças e adaptações, seguidas de períodos de estabilidade, são responsáveis pelo desenvolvimento contínuo do ser humano. Assim sendo, se por um lado a ciência comprova o aumento da debilidade física com o passar dos anos, a sua mente não sofre necessariamente o mesmo tipo de mudança e consequente adaptação. Apesar da mente humana também se encontrar em permanente mudança ao longo da vida, isso não determina que uma pessoa na fase de velhice não tenha capacidade de decisão para empreender com sucesso muitas e variadas tarefas.

A família tem também nesta fase um papel muito importante no desenvolvimento humano, se conseguir estar presente e apoiar esta fase dos seus idosos, ser-lhes-á mais fácil a resolução dos seus conflitos interiores e a aceitação das suas novas condições de vida, em que a dependência física é normalmente um factor comum. As mudanças são muito acentuadas nesta fase de desenvolvimento, e serão aceites mais facilmente se houver apoio da parte da família, pois foi, provavelmente, no seio da família que todas as situações anteriores de mudança foram ocorrendo sendo ultrapassadas e levando a um desenvolvimento de cada elemento da mesma. Cabe à sociedade criar condições de desenvolvimento adequado a esta fase, sempre que a família não o possa proporcionar. Deverão as instituições de acolhimento ser instrumentos promotores de socialização permitindo o surgimento de novos papéis sociais, eliminando assim os sentimentos de inutilidade, as depressões e a solidão.

De acordo com a teoria do desenvolvimento de Erikson (Valadares, 2007) o último estádio de desenvolvimento caracteriza-se por um conflito psicossocial entre integridade e desespero. Nesta fase os indivíduos reflectem sobre a sua vida toda, sobre o que fizeram, o que não fizeram, o que poderiam ter feito, de certa forma fazem um balanço da sua vida. Da resolução positiva deste conflito surgem as virtudes básicas de sabedoria e de renúncia.

Como refere Marchand (2001) a sabedoria resulta da astúcia das pessoas, da sua capacidade de serem boas ouvintes e boas observadoras, o que as leva a aprender com os seus erros e com os erros dos outros. Compreende-se assim que a sabedoria não depende só da inteligência dos indivíduos, mas sim da forma como integram os saberes e as competências adquiridas com a sua experiência de vida, dotando-os de elevados conhecimentos, segundo a conceptualização de Baltes (Marchand, 2001) quanto ao desenvolvimento humano, conhecendo as suas fases e os seus ritmos, quanto à própria natureza humana, relativamente às relações sociais e intergeracionais, sendo que neste ponto a sabedoria se traduz numa redução de conflitos sem que o indivíduo seja passivo. Acumulam-se também conhecimentos pelas tarefas e objectivos de vida, variações individuais e culturais e quanto às incertezas características dos percursos de vida.

Pelo que foi exposto no parágrafo anterior pode verificar-se que os conhecimentos e as competências que os indivíduos adquirem ao longo da sua vida os enriquecem como seres humanos. A sabedoria é resultante de uma experiência de vida, não é inata, desenvolve-se ao mesmo tempo que o ser humano também se desenvolve. Não estagna quando este atinge a idade adulta, continua a desenvolver-se e a manifestar-se durante toda o processo da velhice, desde que as condições físicas do indivíduo assim lhe permitam.

Verifica- se assim que as teorias do desenvolvimento humano contrastam imenso com a imagem mais generalizada dos idosos na nossa sociedade. A sabedoria aumenta com a nossa idade, com a nossa experiência de vida, com o desenvolver de relações interpessoais, pelo que é muito importante sabermos escutar, observar e aprender com os nossos e com os erros dos outros. O relacionamento com os idosos poderá ser uma fonte de sabedoria.

Sem comentários:

Enviar um comentário