sábado, 20 de junho de 2009

2ª Parte: O Meu Percurso Formativo

As competências adquiridas por um indivíduo apresentam-se como a articulação de vários conhecimentos, os quais se adquirem ao longo da vida, através da educação informal e formal e das experiências individuais vivenciadas. Assim sendo o percurso formativo resulta da combinação de saberes multiformes e de diferente natureza, tal como afirma Ana Pires (2008). A pessoa que hoje sou, resultou da combinação do meu material genético com os meios em que tenho realizado o meu percurso existencial.

Nesta perspectiva, posso afirmar que a minha formação começou desde o dia em que nasci, através das experiências vividas em família, onde aprendi a falar e a relacionar-me com os outros e com o meio envolvente. Continuou com a educação formal na escola primária, durante a infância, até à fase de jovem adulta com a frequência de um curso universitário. Durante a frequência do Ensino Secundário e Universitário vivi deslocada da família, esta experiência proporcionou-me várias aprendizagens, a nível da construção de uma identidade e do relacionamento interpessoal, da independência que fui adquirindo e da consequente responsabilidade pela gestão dos recursos financeiros que os meus pais me disponibilizaram ao longo desses anos, até iniciar a minha vida profissional.

Como referido, na perspectiva teórica de Erikson (Valadares, 2007), durante esta fase de jovem adulta estabeleci laços com alguém, muito importante no meu desenvolvimento pessoal, e juntos constituímos família. Antes de terminar os meus estudos universitários tive dois filhos. Esta realidade familiar tornou-se na minha fonte de sabedoria pessoal. O relacionamento íntimo com alguém é fundamental para o crescimento interior. O relacionamento com os filhos, o apoio ao seu crescimento e desenvolvimento, é também uma experiência de aprendizagem muito rica, a qual tem favorecido o meu desenvolvimento ao longo destes anos.

Quando iniciei a minha vida profissional, como professora do Ensino Básico, deparei-me com a necessidade de proceder à minha formação individual, através da preparação diária das aulas, quer a nível de conteúdos como de métodos de aprendizagem. Relativamente à minha actividade profissional posso afirmar que, ao longo dos catorze anos que leccionei, aprendi imenso. Essa aprendizagem constante ocorreu tanto a nível formativo, através das acções de formação que frequentei, em áreas muito variadas, como através das experiências de relacionamento com alunos, pais e colegas.

Uma das formações que me proporcionou mais experiências de aprendizagem, foi na área da Filosofia para Crianças. Permitiu-me conhecer melhor os meus alunos, assim como me mostrou que ensinar a pensar, a questionar e a argumentar, promove o desenvolvimento individual.

As mudanças sociais, a que hoje se assiste, e as exigências que as acompanham, nomeadamente no mundo do trabalho, levaram-me a integrar de novo o Ensino Universitário. Na actual fase de adultez, estou novamente em formação nesta licenciatura em Educação. Esta experiência tem facultado o meu desenvolvimento em muitas áreas, através do próprio sistema de ensino a distância, e-learning, e dos conteúdos de cada unidade curricular. É mais um comprovativo de que nos encontramos sempre em desenvolvimento, e de que as nossas capacidades intelectuais não estagnam, como se pensava há uns anos atrás.

Bibliografia

MARCHAND, H., Excerto do texto A Sabedoria, in Psicologia do Desenvolvimento, 2001

Texto traduzido e adaptado por ANGELINA COSTA (2008), de RODRIGO, M. e PALÁCIOS, J. Famillia y desarrollo humano, Madrid, Alianza Editorial, 1998

VALADARES, J., Manual de Psicologia de Desenvolvimento e Aprendizagem, 2007

1ª Parte: A imagem social do idoso versus sabedoria

Nas sociedades ocidentais, sociedades ditas industrializadas, a capacidade de produzir é uma característica determinante para definir os papéis sociais de cada indivíduo. Por esta razão é associada aos idosos uma imagem de indivíduos não produtivos, que atingiram uma fase das suas vidas em que se limitam a existir, dos quais não se espera uma contribuição activa na vida social, pois fisicamente já não podem realizar algumas tarefas. Como todos os indivíduos adultos trabalham, na maioria das famílias, deixou de haver condições para cuidar dos seus “velhos”. Assim a sociedade, atenta às necessidades de apoio familiar de forma a rentabilizar a capacidade de produção, criou espaços para recolher os idosos e providenciar as suas necessidades, tratando-os de forma homogénea, como “produtos excedentes”. A velhice passa a ser encarada como uma doença social, (Patrícia Matos, 2004).

Atribui-se, aos idosos, uma incapacidade de actuar, quer a nível físico, por debilidade do seu corpo e por atrofiamento muscular, quer a nível mental por perda de faculdades intelectuais, memória e concentração. Esta imagem é desprovida de sentido à luz das teorias da psicologia do desenvolvimento humano, pois pressupõe que um idoso não se desenvolve, e que as suas capacidades intelectuais estagnam. Verifica-se, no entanto, que em todas as idades ocorrem mudanças, as quais suscitam um reajustamento ou uma adaptação à nova situação. Estas mudanças e adaptações, seguidas de períodos de estabilidade, são responsáveis pelo desenvolvimento contínuo do ser humano. Assim sendo, se por um lado a ciência comprova o aumento da debilidade física com o passar dos anos, a sua mente não sofre necessariamente o mesmo tipo de mudança e consequente adaptação. Apesar da mente humana também se encontrar em permanente mudança ao longo da vida, isso não determina que uma pessoa na fase de velhice não tenha capacidade de decisão para empreender com sucesso muitas e variadas tarefas.

A família tem também nesta fase um papel muito importante no desenvolvimento humano, se conseguir estar presente e apoiar esta fase dos seus idosos, ser-lhes-á mais fácil a resolução dos seus conflitos interiores e a aceitação das suas novas condições de vida, em que a dependência física é normalmente um factor comum. As mudanças são muito acentuadas nesta fase de desenvolvimento, e serão aceites mais facilmente se houver apoio da parte da família, pois foi, provavelmente, no seio da família que todas as situações anteriores de mudança foram ocorrendo sendo ultrapassadas e levando a um desenvolvimento de cada elemento da mesma. Cabe à sociedade criar condições de desenvolvimento adequado a esta fase, sempre que a família não o possa proporcionar. Deverão as instituições de acolhimento ser instrumentos promotores de socialização permitindo o surgimento de novos papéis sociais, eliminando assim os sentimentos de inutilidade, as depressões e a solidão.

De acordo com a teoria do desenvolvimento de Erikson (Valadares, 2007) o último estádio de desenvolvimento caracteriza-se por um conflito psicossocial entre integridade e desespero. Nesta fase os indivíduos reflectem sobre a sua vida toda, sobre o que fizeram, o que não fizeram, o que poderiam ter feito, de certa forma fazem um balanço da sua vida. Da resolução positiva deste conflito surgem as virtudes básicas de sabedoria e de renúncia.

Como refere Marchand (2001) a sabedoria resulta da astúcia das pessoas, da sua capacidade de serem boas ouvintes e boas observadoras, o que as leva a aprender com os seus erros e com os erros dos outros. Compreende-se assim que a sabedoria não depende só da inteligência dos indivíduos, mas sim da forma como integram os saberes e as competências adquiridas com a sua experiência de vida, dotando-os de elevados conhecimentos, segundo a conceptualização de Baltes (Marchand, 2001) quanto ao desenvolvimento humano, conhecendo as suas fases e os seus ritmos, quanto à própria natureza humana, relativamente às relações sociais e intergeracionais, sendo que neste ponto a sabedoria se traduz numa redução de conflitos sem que o indivíduo seja passivo. Acumulam-se também conhecimentos pelas tarefas e objectivos de vida, variações individuais e culturais e quanto às incertezas características dos percursos de vida.

Pelo que foi exposto no parágrafo anterior pode verificar-se que os conhecimentos e as competências que os indivíduos adquirem ao longo da sua vida os enriquecem como seres humanos. A sabedoria é resultante de uma experiência de vida, não é inata, desenvolve-se ao mesmo tempo que o ser humano também se desenvolve. Não estagna quando este atinge a idade adulta, continua a desenvolver-se e a manifestar-se durante toda o processo da velhice, desde que as condições físicas do indivíduo assim lhe permitam.

Verifica- se assim que as teorias do desenvolvimento humano contrastam imenso com a imagem mais generalizada dos idosos na nossa sociedade. A sabedoria aumenta com a nossa idade, com a nossa experiência de vida, com o desenvolver de relações interpessoais, pelo que é muito importante sabermos escutar, observar e aprender com os nossos e com os erros dos outros. O relacionamento com os idosos poderá ser uma fonte de sabedoria.




Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 10 - Celebridades - Música - Esportes